Crónica de Alexandre Honrado
Jorge Sampaio
Tentei escrever várias vezes sobre Jorge Sampaio, na altura certa. A altura certa, todavia, era sempre nova e a última de todas as alturas certas era um embrulho de lágrimas e recordações, um patamar onde se dizia adeus a um homem que, sobretudo, foi um ser humano de sóbrio e eficaz humanismo e de um humanitarismo inequívoco, sendo que o amor à Humanidade é sempre difícil, pois amar em todos cada um é quase impossível, e ser capaz de acolher o outro, sempre que o outro necessite, é uma prova de altruísmo sem igual.
Não escrevi sobre Jorge Sampaio recentemente, para evitar o alinhamento com os que, saídos como ácaros de debaixo das suas alcatifas esmagadas, se apressaram a colher uns louros anémicos. A tentação era equilibrar recordações, e isso seria falar também de mim, o que não tem o menor interesse. Por isso escrevo agora – e não escrevo. Partilho-me em voz baixa. É que estava agora a ler um livro escrito pelo seu avô materno, o Comandante Fernando Augusto Branco, que foi um dos pioneiros da utilização dos submarinos em Portugal. Há anos, o Dr. Jorge Sampaio em visita à Marinha, incluiu a passagem pela Esquadrilha de Submarinos, onde visitou o Edifício do comando e o submarino “Delfim”. O seu avô materno foi então recordado: em 1913 era Imediato do “Espadarte”, o primeiro submarino da Península Ibérica, que se estreou numa viagem de Spezzia para Lisboa, em Maio desse ano.
Estava eu a ler um livro – Novelas Submarinas, do Comandante Fernando Augusto Branco -, e as ideias cruzaram-se. Outras histórias políticas, envolvendo submarinos, naufragaram em águas turvas nacionais, e agora mesmo notamos o jogo de peões matreiros que revela a venda de tecnologia de submarinos de propulsão nuclear por parte dos EUA e do Reino Unido à Austrália, fazendo estremecer a Europa e abanar a economia francesa.
O que diria Jorge Sampaio? Que uma coisa é a guerra e outra é a luta e que a segunda impõe-se para evitar a primeira? É por isso que a luta do Presidente continua, agora ainda mais intensa. Recordo que a Plataforma Global para os Estudantes sírios, que presidia, alargou por sua vontade o âmbito de atuação, promovendo “um programa de emergência de bolsas de estudo e de oportunidades académicas para jovens afegãs” – hoje mais importante do que nunca!
Num país de náufragos e naufrágios, Jorge Sampaio foi um comandante exemplar. Poucos foram os que o aplaudiram na hora da partida. Todos os outros deviam-lhe muito. E não sabiam.
Isto sou eu a falar, na impossibilidade de escrever mais dignamente sobre ele.
Alexandre Honrado
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